Antes de mais nada, nos posicionemos sobre a história da banda. O Alice In Chains se formou no final dos anos 80, na junção de ex-bandas de Layne Staley (vocais) e Jerry Cantrell (guitarras e vocais). A banda ainda incluía Mike Starr (baixo) e Sean Kinney (bateria). Rapidamente gravaram um EP de sucesso que os levou a gravar o primeiro disco, "Facelift". O álbum demorou a decolar, mas com a ajuda dos singles "Man In The Box" e "Sea Of Sorrow", alcançou o sucesso e ajudou a banda a obter um lugar na turnê "Clash Of The Titans", que traziam 3 dos Big Four: Anthrax, Megadeth e Slayer. Após a turnê, a banda retornou ao estúdio, com a intenção de gravar um novo álbum, mas acabou gravando faixas acústicas que acabaram se tornando o EP "SAP". Em 1992, a banda entraria em estúdio novamente para gravar seu maior sucesso: "Dirt". Foram escalados para abrir para Ozzy Osbourne e de sua banda conseguiram seu novo baixista: Mike Starr (faleceu recentemente, em março deste ano) saiu e foi substituído por Mike Inez. Novamente no estúdio em 1993, a banda gravou um segundo EP acústico, "Jar Of Flies", que conseguiu a façanha de ser o único EP a alcançar o topo da parada americana. A banda deveria excursionar com o Metallica e o Suicidal Tendencies, mas foi impedida graças ao vício em heroína de Staley. Começava aí uma longa história de abuso de drogas pelo vocalista Layne Staley, que eventualmente causaria sua morte em 2002.
A banda lançou mais um disco de estúdio em 1995, homônimo (a capa é um cachorro sem uma das patas), que conseguiu estrear no topo da parada. Neste disco, Cantrell começou a assumir os vocais em diversas canções. Não houve turnê para este disco, provavelmente devido ao estado avançado de dependência química de Staley. A banda optou por lançar um álbum acústico ("MTV Unplugged") no ano seguinte, de grande sucesso, e ainda fez quatro apresentações abrindo para alguns shows da reunião da formação original do Kiss. Sem totalmente terminar, a banda entrou em hiato indefinido, e o fim pareceu se confirmar em 2002, quando o vocalista Layne Staley foi encontrado morto em seu condomínio, duas semanas depois da overdose fatal (só pra constar, ele não morreu com 27 anos, e sim com 34). Os membros da banda se dispersaram: Jerry Cantrell partiu para uma carreira solo; Mike Inez tocou com Slash, Black Label Society e chegou a ser bem cotado para substituir Jason Newsted no Metallica (Robert Trujillo acabou ficando com o cargo); e Sean Kinney formou alguns projetos de pouca importância.
Em 2005, a banda se reuniu para apresentações beneficentes para o tsunami que devastou boa parte da Ásia. No ano seguinte, tocaram em homenagem às irmãs Wilson, do Heart. Nesta apresentação, eles tocaram com seu futuro novo vocalista/guitarrista: William DuVall, ex-Comes With The Fall (nunca ouvi falar...). A banda resolveu fazer uma turnê de reunião com DuVall, e o sucesso e a resposta positiva dos fãs acabaram levando a banda a gravar um novo disco, que foi lançado em setembro de 2009 e conseguiu excelentes resultados em termos de vendas (mais de 500.000 discos, na atual época de vacas esqueléticas do mercado fonográfico), além de ter sido muito bem recebido por fãs e crítica especializada.
O disco foi produzido por Nick Raskulinecz, que também já produziu discos do Foo Fighters, Rush, Death Angel e Deftones. As gravações ocorreram no período de outubro de 2008 a março de 2009. Os estúdios utilizados foram Studio 606, Northridge, California e Henson Studios, Los Angeles, California. Após as mixagens e masterização, a banda liberou o single "A Looking In View" em junho de 2009; em agosto, o segundo single, "Check My Brain", saiu. O álbum foi lançado no dia 25 de setembro de 2009 e alcançou a quinta posição na parada americana, segundo a Wikipedia. Um terceiro single ainda seria lançado, "Your Decision", em novembro do mesmo ano. Do ponto de vista de composições, o álbum foi quase que inteiramente composto por Jerry Cantrell, com algumas colaborações dos demais integrantes nas canções "Last Of My Kind" e "A Looking In View".
Vamos às minhas impressões, faixa por faixa:
1 - All Secrets Known - a abertura do disco traz uma canção moderada, bem ao estilo da banda. Os primeiros versos da música parecem anunciar o renascimento da banda: "Broke, a new beginning... Time, time to start living life". Um novo começo, hora de viver novamente, e é isto que a banda tentou com este novo disco. Talvez esta canção não seja merecedora de abrir um disco de tamanha qualidade, mas não é de todo ruim.
2 - Check My Brain - aqui sim temos todo o potencial da banda elevado à eneésima potência. Um riff matador de introdução que conduz a canção durante todo o tempo. Os vocais compartilhados de Cantrell e DuVall serão uma constante no disco, e o forte refrão faz desta uma das melhores músicas do disco. O solo traz a marca registrada de Cantrell, contido e ao mesmo tempo de grande qualidade.
3 - Last of My Kind - outra que começa moderada, esta é a primeira com vocal dedicado de William DuVall. Ele não entrou para substituir Layne Staley, e sim para completar a sonoridade da banda com outra voz, complementar à de Jerry Cantrell, e para trazer também uma guitarra base. Esta canção é outro destaque do disco, e vai num crescente até explodir no refrão. Cantrell nos traz outro belíssimo solo, ainda melhor que o anterior.
4 - Your Decision - mais uma bela canção de base acústica da banda, que costuma gostar mesmo desta sonoridade - vide seus EPs "SAP" e "Jar of Flies". E como estes registros, esta música também tem muita qualidade. Pequenos trechos elétricos complementam-a, transformando esta canção em outro grande destaque do disco.
5 - A Looking in View - o primeiro single do disco traz bastante peso, lembrando a todos que o Alice In Chains sempre foi uma banda de heavy metal, sem essa de classificá-los de grunge. Os vocais de Cantrell são complementados novamente pelos de DuVall, um trabalho que se destaca nesta canção. Aliás, confesso que não entendi quando alguns que resenharam este disco na época de seu lançamento disseram que a voz de DuVall parece com a de Staley. Não vejo semelhança. Vale para mim o que falei acima, DuVall veio para completar a banda, em termos vocais e guitarra base.
6 - When The Sun Rose Again - outra canção acústica, esta parece ter saído das sobras do "Jar of Flies". Nenhum problema, a canção tem suas qualidades. Mas aguarde até a próxima canção...
7 - Acid Bubble - esta começa bem arrastada, para ir crescendo com seu peso lentamente. De repente, uma quebra e um riff poderoso entra e toma conta da canção, transformando-a. DuVall canta os versos do refrão com grande intensidade, como se incendiado pelo riff que transformou a canção. E a música volta naquele ritmo arrastado e pesado, até trazendo um suave solo de Cantrell. Até que o fantástico riff volte e incendeie mais uma vez a canção. Para mim, outro grande destaque do disco!
8 - Lesson Learned - esta é uma canção que se encaixa perfeitamente no clássico estilo de heavy metal que o Alice In Chains desenvolveu pelos seus discos. Com um refrão de melodia cativante, ela também se destaca neste disco de grande qualidade.
9 - Take Her Out - esta aqui, por outro lado, parece a continuação da música de abertura, em termos de ser moderada e de estar em um patamar abaixo das outras canções. Depois de tantos destaques, uma ou outra música acaba sendo ofuscada, não tem jeito.
10 - Private Hell - esta música parece transbordar uma intensidade dramática, da forma como é executada e cantada - especialmente no refrão. A canção se destaca também no solo super pessoal de Cantrell, e no vocal que conduz a música. Parece até que nos anuncia que o disco está chegando a seu fim...
11 - Black Gives Way to Blue - esta canção tem um clima triste, quase de velório, mas tem um porquê. É uma linda homenagem do Alice In Chains ao seu amigo, ex-companheiro de banda, Layne Staley, que acabou sucumbindo ao abuso das drogas. A letra traz versos de tristeza pela perda do grande vocalista que Staley foi: "The emptiness of tomorrows... Haunted by your ghost" (o vazio dos amanhãs... assombrado pelo seu fantasma). Participação super especial de Elton John, que adiciona um belo piano à música. Esta homenagem encerra de maneira triste mas brilhante este grande disco do Alice In Chains.